terça-feira, 4 de março de 2008

Lições de mercado...ou porque não há almoços grátis

Aos poucos, de volta ao mercado, ainda só para sentir como param as curvas (de oferta e de procura, claro…), convenço-me que a coisa não vai lá só à força da mão-invisível. É urgente uma entidade reguladora, um provedor, uma polícia especializada, um FMI, um tribunal vocacionado para este tipo de contendas.

Situação 1 – Meter conversa

a) Tentativa de meter conversa numa discoteca cá do burgo. 2 predadores a cercar território, com lenta aproximação física. E vai o mais feiinho:
Feiinho - Olha, oghxoçrugxoçrg…
Moi - Desculpa, não percebi!
Feiinho - Queria perguntar se te podia apresentar o meu amigo? (e o amigo, mesmo ao lado espreita e sorri com ar de totó)
Moi - Ah! Acho que não.
Feiinho - Oh, mas porquê, ele é muito bom rapaz, sabes? (ri-se satisfeito com a graçola)
Moi – Ah! Acredito, acredito.
Feiinho – Então, por que é não to posso apresentar?
Moi – Porque para me apresentares o teu amigo, terias de me conhecer primeiro, não é?

Lição 1: Já não temos 15 anos... E meter conversa é um core business que não admite outsourcing.

b) Ficando sozinha na mesa de um barzito, quando os amigos se ausentam para abastecer a copofonia.
Desconhecido – Então, olá.
Moi – Olá.
Desconhecido – Não te lembras de mim?
Moi – Não.
Desconhecido – Mas, não te lembras porque não tens memória ou porque não te queres lembrar?
Moi – Se calhar, não me lembro porque não nos conhecemos, de facto, não é?

Lição 2: Se quer fidelizar clientes, não aposte num plano de marketing intrusivo à la-banha-da-cobra, sobretudo, se não tem capacidade argumentativa para o desenvolver.

Situação 2 – Os cafezinhos, jantarinhos e outros inhos...

a) Cafezinho da praxe, com uma personagem que gere activos, mercados de risco e outras coisas não tangíveis e sobre as quais eu não percebo um chavelho (e quero continuar a não perceber). Segue o guião habitual: atão e como é que é teu trabalho, atão e como é que… tutti, tutti, tutti… a dada altura:
Moi - E filmes também sacas da net?
Gestor - Ah só alguns… Tenho poucos… Só mesmo os filmes da minha vida (eu devia ter suspeitado da expressão tão Lauro Dérnio)
Moi - Ah! Então e quais são?
Gestor - Ah, e tal, tu não deves conhecer?
Moi - (confesso, aqui ocorreu-me a produção cinematográfica do Sri Lanka, Kuala Lumpur, Gronelândia) Mas, passo a saber. Diz lá.
Gestor - Então, o Cinema Paraíso
Moi - (Toing) hum, sim, conheço.
Gestor - Este se calhar não conheces mesmo… É antigo
Moi - Sim
Gestor - Francês
Moi - Sim
Gestor - Há festa na aldeia.
Moi - Do Jacques Tati, sim.
And so on, and so on…

Lição 3: o Mercado não é alheio às dinâmicas homo e heterogeneizantes da globalização. Portantos, não ignoremos as suas especificidades. Com todo o respeito, mas nem tudo se resume e cabe num blockbuster perto de si.

b) Já na base do jantarinho com "amigo" escandalosamente giro e obsessivamente bem esculpido com quem disserto sobre as vantagens do diálogo sobre a violência física (ah, tem uma empresa de segurança e estórias hiper suculentas de quando trabalhava nas portas dos bares e discotecas cá da zona):
Segurança - E então o que é que vais pedir?
Moi - Nã sei… Hum, acho que vou no entrecosto.
Segurança - Isso é porco?
Moi - Sim, é porco, porquê?
Segurança - Iac, não como porco.
Moi - Mas, porquê és muçulmano?
Segurança - Não.
Moi - Não gostas? (confesso que aqui pensei que se seguiria um diálogo à la Pulp Fiction: porks are fielthy animals...)
Segurança - Não é isso, faz muito mal.
Moi - Pois, viver pode trazer danos irreparáveis à saúde (disse eu, com ar de gozo).
Segurança - E às mulheres então… vai tudo para coxas e para o rabo (diz ele, com ar sério).
Moi - (Toing) É bem possível...

Lição 4: O que vai para as coxas e para o rabo sou eu que decido e tu, definitivamente, não. Onde é que ficou a máxima do cliente tem sempre razão. Humpf!!!

c) Bom, como este espécime é mesmo muito apetecível (quando está calado) pensei em insistir. 2º jantarinho, chegamos à fase da arqueologia do mulherio:
Moi - Ah, e então acabaram?
Segurança - Foi, porque ela bebia muito e também fumava (a gande vaca, pensei eu que ele pensava). Olha como é que ela ficou. (rapa do telemóvel e vai de mostrar)
Moi - Ahh.
Segurança - E então, conheci a blá-blá-blá, e acabamos.
Moi - Ah foi?
Segurança - Ela queria sempre discutir muito (rapa do telemóvel e vai de mostrar)
Moi - Ahh.
E continuou… ao ponto de eu achar que aquilo não era um telemóvel, mas sim um mini-buraco negro em frames...puff!

Lição 5: A referência ao percurso histórico (ou seja, ao mulherio anterior, faz-se na base do tópico, da súmula). Digamos que é apenas um Curriculum Vitae Síntese... se não são artistas, nem designers, o mercado dispensa o portfolio.

De modos que é assim, o mercado tá flat...

2 comentários:

Ana G disse...

Simplesmente genial! Amei, é mesmo isso, tutti, tutti, tutti :D

Anónimo disse...

Excelente estudo de mercado. Há com cada situação, valha-nos Deus!
:)

Beijinhos