sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Até quando te morder

Falámos. Finalmente falámos. Não sei se me consegui explicar devidamente. Não sei se compreendeste o que te quis dizer. Fico aturdida e muito pouco eloquente quando estou perto de ti. Procuro pesar cada palavra com rigor e construir um discurso filigranático para te transmitir o que quero e para ir ao encontro do que me parece que te é possível ouvir neste momento.
Tu falaste mais. Tu falas sempre mais. Já avançámos do ponto em que nos encontrávamos há 4 meses atrás. Mas é sempre com uma cautela cirúrgica que te pronuncias sobre o grau do nosso envolvimento. "Quero que me incluas mais" disse-te a dada altura. "O que é que isso significa?". Significa que não quero ficar à parte nos momentos em que te procuras resolver. Abraças-me. Digo-te que "Gosto muito de ti e quero estar mais vezes contigo". Dizes, "Eu sei" e novo abraço surge entre nós.
Separámo-nos e pedi-te "Confia em mim". Não sei o que é que isso significa, mas desenvolvi a infundada a teoria de que te é difícil acreditar na possibilidade de teres alguém ao teu lado que não se irá ausentar repentinamente e que não ousas ainda pensar na possibilidade de amar e de te deixares amar.
Espero ter a força de te acariciar, beijar, sondar e sentir até te deixares morder como um fruto.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Mergulhar é de cabeça e amar também

Entrego-me a um novo amor do mesmo modo que entro no mar. Gosto de apanhar sol. Por mim, passaria horas a fio deitada na areia a sorver cada raio de luz na minha pele, mas às vezes vou à água. É o que todos fazem e é o que os amigos que me acompanham me pressionam para fazer. Então, eu vou. Mas só tenho duas formas de o fazer: molhando os pés ou mergulhando de cabeça. Molhar os pés exige cautela e atenção ao ritmo marítimo e às crianças que pululam ao lado, uma vez que a intenção é unicamente molhar os pés. Mergulhar pede uma entrada gradual, uma habituação progressiva de cada parte do corpo à temperatura estranha do mar, mas com a plena certeza da inevitabilidade do mergulho. Não percebo aquela ideia de "molha-te só até cintura", ou "molha-te só até ao pescoço" ou "não, não quero molhar o cabelo". Não, a partir do momento em que o limite dos pés é ultrapassado o destino só pode ser a total imersão do corpo na água, por mais dolorosa que seja a transição... Por isso, não mergulho muitas vezes. Tem de ser um dia especial, um sol mais quente, uma água mais límpida, uma vontade mais forte. Porque é bom, é sempre bom mergulhar. Quando deposito o meu corpo extenuado na toalha ensolarada, penso que bom, que bom que foi. Mas também sei que será difícil tão cedo reunirem-se as condições para mergulhar novamente. Ficam os pés que se vão molhando para parecer igual aos outros, mas não é a mesma coisa, não é mesmo a mesma coisa...

Estremeço só de pensar que logo te perco. Que logo confirmas os meus piores receios...

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

abismos de começo e de fins

Andei o dia todo com um abismo na garganta que se dilata e incomoda na proporção em que se aproxima a hora de nos falarmos. Interagir com o outro decorre sempre sob a rede mais ou menos ampla e segura de expectivas socialmente buriladas. E eu não sei o que esperar da nossa conversa. Eu nem sei se tu esperas uma conversa. E esta ausência de rede, de não saber o que o que esperar está a dar de mim...

Um bom encontro é de dois

Tenho uma relação estranha com a música que se foi transformando ao longo dos anos. Despertei bastante tarde para esse universo, tinha dezoito anos, estava no primeiro ano da faculdade e foi pela mão, ou melhor pelo ouvido, do meu primeiro namorado que o interesse por esse domínio se foi afirmando. Até essa altura ouvia música na rádio, sem aprofundar grandes conhecimentos por grupos e correntes musicais. Não deixa de ser estranho porque há um papel que a música costuma cumprir entre a população adolescente de identificação grupal. Tal não aconteceu, o que só confirma o meu carácter não-gregário!
Enfim, com o-primeiro-namorado fui descobrindo alguns baluartes musicais e culturais sobretudo dos anos oitenta, fui ganhamdo o gosto pela compra de discos, pela leitura do bocklet e começando a seguir os desenvolvimentos de algusn grupos ou interpretes que interessavam. Por restrições financeiras tive de deixar o hábito de comprar discos (viver sozinha tem destas coisas) e fui cingindo a minha atenção a alguma música brasileira. Actualmente, não faço a mínima ideia do que se passa no campo da música e regressei à rádio. Com a rádio desenvolvo uma relação que normalmente coincide com os momentos de condução diária, vou ouvindo as notícias, o trânsito e depois como as play lists que nos impingem. Na maioria das vezes não presto muito atenção às músicas que passam, mas o meu ouvido assimila-as e vou cantarolando sem saber muito bem o que digo. Quando me faço acompanhar de alguém e começo a cantarolar não é raro ouvir com espanto "gostas disto?!" e eu digo "Não", "Mas estás a cantar", "é, mas não gosto!".
Com a rádio há outra coisa que às vezes acontece e que acho deliciosa, que é pensar numa das músicas que passam 10 vezes ao dia, antes de ligar o rádio e quando o ligo, tcharam, lá está ela.
Aconteceu-me isso hoje de manhã com uma música em que tenho pensado:

É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte
Não tenho o que dizer

São só palavras
E o que eu sinto
Não mudará
Tudo o que quer me dar

É demais
É pesado
Não há paz
Tudo o que quer de mim

Irreais
Expectativas
Desleais
É pesado
Mesmo, se segure
Quero que se cure
Dessa pessoa
Que o aconselha
Há um desencontro

Veja por esse ponto
Há tantas pessoas especiais
Um bom encontro é de dois
(Vanessa da Mata e Ben Harper)


Não acredito em destinos e coincidências, mas vacilo quando acontecem e se concretizam inexplicavelmente. Um bom encontro é de dois e não nos temos encontrado, se calhar é só isso, uma espera desmesurada de ti, talvez tenha acabado e seja altura de dizer boa sorte...

terça-feira, 27 de novembro de 2007

o mistério do CV...

Sempre achei que o curriculo seria um documento eufemisticamente mentiroso, mas pela positiva. Até que dei comigo a reabilitar as experiências de trabalho em lojas e como empregada de mesa e a omitir a qualificação académica e os parcos trabalhos publicados... para poder pensar em arranjar um segundo emprego precário e desqualificado. Tsch...

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

hate mondays...

Hummm, alguma coisa vai ter que mudar e não será para que tudo fique na mesma...

Se não mudas tu, mudo-me eu!

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

a razão e o nome

O nome deste espaço, confessional e blogosférico, traduz a sensação que volta e meia me invade e parece tomar conta de mim. Sim, é mais do que sabido que vivemos num mundo ávido de mudança, novidade, que as nossas vidas se encontram assoberbadas de compromissos e tarefas, tantas vezes inúteis. Também é verdade que detemos uma consciência mais ou menos presente dessa situação e, não raras vezes, frustamo-nos com a impossibilidade de fazer um conjunto de coisas que nos agradam e de desempenhar com afinco papéis de que gostamos (como filhos, amigos, namorados, etc). Tenho sentido isso, tenho sentido que os compromissos e as situações se impõem de uma forma autoritária que não deixam grande margem de negociação. Às vezes sinto que necessitava não de um retiro espiritual, mas sim de um afastamento temporal. Precisava de me afastar para clarificar ideiais e prioridades, mas com a certeza de que tudo à volta parava também. O tempo foge quando teimamos em conferenciar connosco... sobram os momentos introspectivos na fila de trânsito, na fila do supermercado... e agora, aqui.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Amizade em movimento

Teimo em analisar o nosso afastamento...
Resgataste-me de um isolamento colectivamente partilhado pelos cafés da cidade, quando T. morreu. Foram meses de absoluto vazio para mim. Vazio que procurava preencher, receheando as horas de peregrinações pelos cafés e pelo sofá do sotão até altas horas da madrugada. Recordo o sorriso com que caminhaste até à mesa de café onde me alheava nas notícias de um jornal. Não era possível resistir a um convite tão autêntico, tão entusiasmante, vindo de alguém como tu. Partilhámos desbocadamente intimidades despudoradas das vidas que tínhamos tido até então. Curiosamente, houve uma distância que nunca se esbateu, ficou sempre lá. Vieste em meu auxílio quando a relação com o Coiso2 se desmoronou e escoraste-me a esperança de voltar a viver novas histórias (é assim que tu falas das relações, como histórias). Estive contigo quando o que nem chegou a ser uma história para ti se transformou num pesadelo e na mais dilemática decisão que se atravessa na vida de uma mulher. Fizeste o que tinhas de fazer. Partiste para a cidade que amas como a uma pessoa e tremi de pensar que poderias ficar por lá. Mas, não. Regressavas revigorada com histórias de sotaque atrevido e sensual. Eu fiquei e não tive histórias para partilhar contigo durante muito tempo. Essa ausência narrativa (ou de vida, como tu provavelmente a entendias) dilatou as nossas posições. Restavam os livros, os filmes e a música. Mas, sabes, os livros para mim servem para ler, os filmes servem para ver e a música serve ouvir... Não gosto e não tenho a capacidade de dissertar tardes e noites a fio sobre qualquer um desses produtos literários, cinematográficos ou musicais. Mais do que isso, sei que não o faço bem e não gosto de me sair mal no que faço, muito menos à tua frente, que és de uma eloquência e de uma erudição estonteante nesses domínios... Sentia-me francamente tonta, incapaz de entrar em condições nessa disputa de oratória. Sim, porque a dada altura também percebi que não era o Lobo Antunes, nem o Coppolla, nem o Chico Buarque o centro do discurso. Era o discurso pela disputa competitiva que ele encerrava. Eras tu a querer sair por cima e só isso. Entre solilóquos, mudez e noites de copos, cristalizou-se uma distância confortável e tácita.
Deixamos de alimentar a nossa amizade, porque deixei de saber quem eras e como é que estavas e tu recusavas saber tudo o resto que é a minha vida e que não se reduz às histórias. E agora, perante terceiros, fingimos espanto por não nos falarmos, fingimos estranheza por não nos encontrarmos. Só para mim, ouso ser verdadeira, não sinto a tua falta. Na verdade, sinto um inconfessável alívio por finalmente operacionalizarmos a distância que nunca deixou de existir. Mas, o que é mais estranho é que continuo a gostar de ti e a desejar com muita força que a vida te corra bem. O que não consigo é falar contigo. Agora que não estás bem e procuras impor à força uma intimidade que não existe, formulando conselhos (que não te pedi) e que mais não são do que a continuidade do teu discurso sobre ti!

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

De castigo, sms curto e seco

Não percebo a tua distância. A tua indiferença... à chuva, ao trabalho, ao mundo e, sobretudo, a mim. Esperei que ligasses ontem. Não, mentira. Esperei que aparecesses lá em cá casa de surpresa, como costumavas fazer. Sabia que não vinhas. Repetia vezes sem conta na minha cabeça "ele não vem" e, no entanto, apanhava a roupa do chão, arrumava os lençóis da cama e punha toalhas lavadas na casa de banho, enquanto me re-mentia, "eu sei que ele não vem e não estou a fazer nada disto para o receber". E as horas passavam, e tu não vinhas, e as lágrimas corriam-me grossas pelas faces, e depositavam-se num chão mais ou menos empoeirado, e lágrima a lágrima, enquanto tempo passava, e tu não vinhas, desatei num choro infantil, desesperado, convulsivo.
Queria tanto que viesses hoje. Hoje, eu precisava tanto que viesses, que me surpreendesses.
Não vou enviar sms de beijos e bons sonhos. Não, não vou. E ele vai perceber. Vai perceber que devia ter vindo. Vai entender que apanhei a roupa do chão, que ajeitei os lençóis e troquei as tolhas, porque ele devia ter aparecido. Claro que não estava combinado, mas se eu não lhe enviar a sms ele vai perceber que faltou ao que não estava combinado, mas que devia ter entendido. Vais, não vais? Ou será que nem vais dar conta ? Ou será que vais adormecer normalmente e de manhã não sentirás falta de nada ? Vou ter que falar, não é? Vou ter que por em palavras toda a falta que eu sinto de ti, mesmo quando nos falamos todos os dias? E vou enviar a sms, como tenho feito ao longo destes 4 meses, não é?
Está bem, mas vai ser curto e seco. E não vou estar à espera de uma reacção. Vou só escrever o sms curto e seco e não vou esperar nada, nada. O telefone toca.
Já estavas a dormir?
(Finjo voz de cama e de sono) .
Desculpa acordar-te.
Não faz mal, sabes que não tenho dificuldades em adormecer.
Fizeste bem em ter ligado. Fizeste tão bem em ter ligado, em renovar o stock da minha esperança... espero por ti, até novo ataque de insegurança e desepero.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

E no meio o que é que há?

Gosto de me definir como uma criatura racional, ponderada, analítica e lógica (bom, tem dias!). Na verdade, penso que faço uso desse modelo de actuação-reflexão em diversas esferas da vida e que sou muito bem sucedida com isso. Foi assim no meu percurso escolar, é assim no meu trabalho, nas minhas relações familiares e de amizade... Há apenas um domínio em que me sinto completamente à toa e onde este infalível paradigma de vida dá claros sinais de falência: no amor (ou no que anda lá perto).

Vamos lá ver, se eu me explico. Eu não tenho nenhum problema em identificar o que sinto, o que quero e o que espero do outro. Aliás, se a coisa se resolvesse unilateralmente tudo rolava muito bem... Mas, não. Aqui só impera mesmo o team work. E fico desconcertada com a interlocução que tenho encontrado e com a respectiva hermenêutica que a relação exige. Não sei o que significa a existência de duas grandes gavetas no armário masculino das relações:

- há uma gaveta pequenina, onde cabe "a namorada". Bom, na verdade essa gaveta está vazia e pode albergar alguém... MAS, será, sem dúvida, para progenitora da prole, com assento marcado no almoço de domingo em casa dos pais.

- depois, há o gavetão das "AMIGAS". E aqui é o puro caos, onde se arrumam os one night stand mais ou menos etilizados, as curtes de férias, os casos mais ou menos coloridos de razoável duração cronológica e, claro, as "quase-namoradas-que-são-amigas-porque-namorada-só-tive-mesmo-uma"


Para quando uma gaveta intermédia (ou um organizador de gavetas da IKEA, pronto!)?