Entrego-me a um novo amor do mesmo modo que entro no mar. Gosto de apanhar sol. Por mim, passaria horas a fio deitada na areia a sorver cada raio de luz na minha pele, mas às vezes vou à água. É o que todos fazem e é o que os amigos que me acompanham me pressionam para fazer. Então, eu vou. Mas só tenho duas formas de o fazer: molhando os pés ou mergulhando de cabeça. Molhar os pés exige cautela e atenção ao ritmo marítimo e às crianças que pululam ao lado, uma vez que a intenção é unicamente molhar os pés. Mergulhar pede uma entrada gradual, uma habituação progressiva de cada parte do corpo à temperatura estranha do mar, mas com a plena certeza da inevitabilidade do mergulho. Não percebo aquela ideia de "molha-te só até cintura", ou "molha-te só até ao pescoço" ou "não, não quero molhar o cabelo". Não, a partir do momento em que o limite dos pés é ultrapassado o destino só pode ser a total imersão do corpo na água, por mais dolorosa que seja a transição... Por isso, não mergulho muitas vezes. Tem de ser um dia especial, um sol mais quente, uma água mais límpida, uma vontade mais forte. Porque é bom, é sempre bom mergulhar. Quando deposito o meu corpo extenuado na toalha ensolarada, penso que bom, que bom que foi. Mas também sei que será difícil tão cedo reunirem-se as condições para mergulhar novamente. Ficam os pés que se vão molhando para parecer igual aos outros, mas não é a mesma coisa, não é mesmo a mesma coisa...
Estremeço só de pensar que logo te perco. Que logo confirmas os meus piores receios...
Estremeço só de pensar que logo te perco. Que logo confirmas os meus piores receios...
2 comentários:
o pior é o choque térmico e consequente paragem cardiaca...
Ps: como é que se desentranha um amor da pele?
"Diz que" o melhor para abandonar um amor é mesmo abraçar um outro amor (na farmacologia amorosa é a fórmula: amor com amor se cura).
Nunca consegui experimentar essa terâpeutica. Sigo sempre a velha, dolorosa, mas infalível, medicação do tempo. Agora, é como os antibióticos, "diz que" tem de se tomar até ao fim...
PS - A investigação confirma que o choque térmico potencia o risco da paragem cardíaca. Mas, ao contrário do que é propalado pelo senso comum, o coração não parte. Pode parar, pode romper, mas trata-se de um músculo com infindáveis possibilidades de regeneração.
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