quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Mergulhar é de cabeça e amar também

Entrego-me a um novo amor do mesmo modo que entro no mar. Gosto de apanhar sol. Por mim, passaria horas a fio deitada na areia a sorver cada raio de luz na minha pele, mas às vezes vou à água. É o que todos fazem e é o que os amigos que me acompanham me pressionam para fazer. Então, eu vou. Mas só tenho duas formas de o fazer: molhando os pés ou mergulhando de cabeça. Molhar os pés exige cautela e atenção ao ritmo marítimo e às crianças que pululam ao lado, uma vez que a intenção é unicamente molhar os pés. Mergulhar pede uma entrada gradual, uma habituação progressiva de cada parte do corpo à temperatura estranha do mar, mas com a plena certeza da inevitabilidade do mergulho. Não percebo aquela ideia de "molha-te só até cintura", ou "molha-te só até ao pescoço" ou "não, não quero molhar o cabelo". Não, a partir do momento em que o limite dos pés é ultrapassado o destino só pode ser a total imersão do corpo na água, por mais dolorosa que seja a transição... Por isso, não mergulho muitas vezes. Tem de ser um dia especial, um sol mais quente, uma água mais límpida, uma vontade mais forte. Porque é bom, é sempre bom mergulhar. Quando deposito o meu corpo extenuado na toalha ensolarada, penso que bom, que bom que foi. Mas também sei que será difícil tão cedo reunirem-se as condições para mergulhar novamente. Ficam os pés que se vão molhando para parecer igual aos outros, mas não é a mesma coisa, não é mesmo a mesma coisa...

Estremeço só de pensar que logo te perco. Que logo confirmas os meus piores receios...

2 comentários:

L'etranger disse...

o pior é o choque térmico e consequente paragem cardiaca...

Ps: como é que se desentranha um amor da pele?

Clepsydra disse...

"Diz que" o melhor para abandonar um amor é mesmo abraçar um outro amor (na farmacologia amorosa é a fórmula: amor com amor se cura).
Nunca consegui experimentar essa terâpeutica. Sigo sempre a velha, dolorosa, mas infalível, medicação do tempo. Agora, é como os antibióticos, "diz que" tem de se tomar até ao fim...

PS - A investigação confirma que o choque térmico potencia o risco da paragem cardíaca. Mas, ao contrário do que é propalado pelo senso comum, o coração não parte. Pode parar, pode romper, mas trata-se de um músculo com infindáveis possibilidades de regeneração.