quinta-feira, 3 de julho de 2008

... pouca uva

Então, foi intensa, sim senhor, mas tudo bem esprimidinho resume-se a meia dúzia de linhas:

- Euro 2008:
A moral da história é mesmo, "prognósticos, no fim do jogo...". Os ditos "favoritos" foram caindo que nem tordos até restar uma Espanha invicta no final do campeonato. A Alemanha também lá esteve e, num daqueles heurísticos momentos televisivos, em que se inquirem os adeptos, o jornalista lá perguntava "e, então, acha que a Alemanha vai ganhar a final?" e respondia a senhora alemã com inusitada sabedoria, "ah, eu até gostava, mas eles não se mexem!". Pois, não mexem, mas mordem... só que não é sempre! Humpf! Ainda por cima antipatizei solenemente com a camisa imaculadamente branca, vincada e justa do treinador, sem uma mancha de suor ao fim de sucessivos 90 minutos agonizantes!

- Noite de S. João
Só mesmo para a facção ortodoxa e fundamentalista da festa. As tradicionais orvalhadas do dia santo começaram a orvalhar logo de manhãzinha. Portanto, não se vislumbrou uma nesga de sol e as gotículas de humidade cinzenta e pegajosa decidiram não dar tréguas. A sardinhada exigiu perícia e rapidez, porque, com a chuva, o bicho começava a boiar no prato. A hora de ver o fogo de artifício originou trocas de argumentos persuasivos sobre dispensabilidade do guarda-chuva com os senhores que se encontravam à minha frente. Não tive fôlego para o intenso debate que se seguiu sobre a qualidade do dito espectáculo pirómano, até porque previa o desfecho conclusivo: "ah, o do ano passado foi muito melhor!" (mas, alguém se lembra realmente como é que foi o fogo do ano passado?!?). Passagem pela Ribeira, estadia prolongada em Miragaia pó bailarico, pois claro! Definitivamente, não gosto de chegar de manhã a casa, fico toda trocada.

- Dia de S.João
O despertador lança-me piropos ao meio-dia. Decido ignorar, porque "mulher séria não tem ouvidos". Volta a insistir ao meio dia e meia hora. Constato que não é possível levantar-me e deslocar-me a casa dos meus pais, para deglutir o assado sério da minha mãe. Envio sms, "mãe, não vou almoçar". A mãe telefona: "atão, não vens?", "não, estou muito atrasada", "mas, ainda não vamos almoçar já", "pois, mas não tenho muita fome". Ao que se segue um extenso questionário sobre o conteúdo do meu frigorífico e sobre os viveres com que me alimentarei (a minha mãe tem duas grandes preocupações para comigo: comer e dormir. Mais, a minha mãe tem duas dimensões explicativas para os possíveis problemas que eu possa ter: "ah, não comes como deve ser" ou "ah, deitas-te às quinhentas e não dormes quase nada". Já deixei de retorquir, limito-me a assentir com um lento e envergonhado movimento de cabeça).
No meu vagar, lá me levantei, tomei banhinho, comi chocapics (a base de uma alimentação saudável) e fui até às praias de Gaia esplanar com quem me tem ocupado os pensamentos (e não só...) nos dias que correm. Quem diz esplanar, diz jantar e quem jantar, diz nanar... Não, isso não, porque no dia seguinte:

- Congresso em Lisboa
Lisboa é uma cidade deserta. Não mora lá uma só pessoa. Há figurantes que são pagos para se deslocarem nesse espaço diariamente, pintando-o de movimento e cosmopolitismo. Porquê? Porque, ou eu tenho muito azar, ou não há uma pessoa a quem me tenha dirigido, a pedir uma informação geográfica, que detenha esse conhecimento. Já experimentei com polícias, funcionários do Metro, empregados de café, velhotes desocupados... Nada. Não sabem, não são dali, estão naquele sítio a trabalhar há pouco tempo... Enfim, gasto uma pequena fortuna em táxis que fazem por ignorar o meu sotaque estrangeiro e me exigem que escolha um caminho, entre percursos que desconheço. Puff...
Quanto ao congresso, decidi ignorar a maratona que a organização propunha, exposta num programa de 200 páginas (!!!), e optei pela solução congresso-buffet. Escolhi umas coisinhas e fui peregrinando no meu ritmo. Concluí que há gente com muita lata e outra tanta (nomeadamente, eu) que não tem nenhuma. O grau de lata varia em função da posição que ocupamos: comunicador/receptor. Há comunicadores com muita lata, malta que não tem nada, mas mesmo nada para dizer, mas ainda assim vai lá mostrar a inocuidade dos primeiros anos de trabalhos de doutoramento (que suspeito, estarão eternamente inacabados). Há receptores (como eu) que constatando o desaforo intelectual que algumas apresentações constituem, nada dizem. Há ainda a estirpe que opta por falar, elogiando o "notável trabalho do caro colega". Irrita-me sobremaneira este pa-ta-ti-pa-ta-tuá. Irrita-me ainda mais, não ter tomates para quebrar com essa polida e densa hipocrisia social que alimenta egos e nada acrescenta ao trabalho que se pretende realizar. Portantos, ignorei os "parabéns" e os "podia dar-me o seu e-mail, tinha muito interesse em trocar umas impressões...". Bah!

- O regresso:
Em comboio rápido, com ar condicionado, com direito a recepção na estação de Campanhã e mais jantarinho e tutti-tutti, foi bom, muito bom. Mas, esta semana foi presenteada com um capricho tecnológico. É que até ontem, como diria a Carol de uma qualquer Little Britain, perto de nós: COMPUTER SAYS NO! Felizmente, já se resolveu...

4 comentários:

Ervi Mendel disse...

É no que dá andar no tutti-tutti em cima do computador. É frutti a mais para o pobre electrodomestico!!!

Heduardo Kiesse disse...

A parte dos figurantes que são pagos... Ta muito forte... Dizes muito mesmo! Beijão

Clepsydra disse...

Ervi,
Li com atenção o manual do utilizador e nada diz sobre o tutti-tutti. Estivesse eu nos EUA e conseguiria uma choruda compensação para a minha perda e criaria um precedente que passaria a constar de todos os manuais: "o notebook é um aparelho frágil, desaconselhamos vivamente que se utilize como base para tutti-tutti"

Clepsydra disse...

Edu,
As cidades têm destas coisas, sobretudo, as de grande dimensão, como Lisboa. E, enquanto pagam aos figurantes, já não está nada mal...