terça-feira, 8 de abril de 2008

Três tempos ou três possibilidades de amar (entre tantas)

A propósito de Three Times de Hou Hsiau Hsien (2005)
Três fragmentos históricos de três histórias, em tempos e com tempos diferentes.
Inicia-se com o tempo da busca de um depositário da indomável vontade de amar. Em 1966, O tempo do amor chegou e é, então, urgente saber-lhe o rosto, desenhar-lhe a voz e esculpir-lhe o corpo. A procura estanca na ténue reciprocidade enternecida e vaidosa que aí se estabelece. São, agora, crianças trôpegas e desajeitadas a aprender a cruzar as mãos, a entrançar os dedos, desatando o nó dos sentidos mudos.
O tempo da espera surge em 1911, no leito de uma concubina apaixonada. É um tempo suspenso, tecido com rigores de filigrana nos gestos compassados, na roupa majestática, na máscara opaca e perfeita que amordaça o grito fundo de dor e desespero, nas amarras invisíveis que aferrolham os amantes no pé da rígida e opressiva ordem social que os juntou e os aparta. É o Tempo da Liberdade que se deseja.
A pulverização da ordem traz o Tempo da Juventude. Em 2005, as opções multiplicam-se ao ritmo dos veículos de encontro, convocando a desordem e a dificuldade acrescida de arrumar prioridades, de construir decisões, de formar uma escolha. Nessa impossibilidade, a vida bebe-se de um só trago em todas as circunstâncias em que se serve. Os momentos raptam-se em frames desordeiramente alinhados, testemunhando o esforço de um arbítrio livre, o empenho no tudo, ainda que nada reste. É o tempo da escolha, porque desejo se escreve, agora, no plural, com rain and tears:
Rain and tears all the same
But in the sun, you've got to play the game
When you cry in winter time
You can't pretend, it's nothing but the rain
How many times I've seen
Tears coming from your blue eyes
Rain and tears all the same
But in the sun, you've got to play the game
Give me an answer of love
I need an answer of love
Rain and tears in the sun
But in your heart, you feel the rainbow waves
Rain and tears both for shown
For in my heart, there'll never be a sun
Rain and tears all the same
But in the sun, you've got to play the game

1 comentário:

Ele disse...

É um filme muito, muito bonito.