quinta-feira, 10 de julho de 2008

Muito pouco nada



Eu tenho um sonho, cada vez mais e mais intenso: trabalhar pouco!

Nos dias que correm, não é bem visto dizer que se trabalha pouco. Note-se que com pouco, se entende um número ajuizadamente pequeno de horas, isto é, as 8 normativamente prescritas em código laboral (actualmente sob revisão). Dizer que se trabalha apenas as 8 horinhas constitui uma gaffe social, sancionada com olhares reprovadores e imediata catalogação com a etiqueta do fracassado-pouco-ambicioso-nunca-há-de-ser-ninguém"!

A situação socialmente bem cotada é, então, trabalhar muito, isto é, no mínimo, para além das 8 horas diárias. Este é o cenário narrativo ideal para expor em contextos sociais diversos. Fica bem dizer, “eh, pá, eu ando a trabalhar uma média 12, 14 horas por dia, mais fins-de-semana”. Quando ouço algo deste género (da minha boca ou de terceiras) viajo até aos tempos idos da Revolução Industrial, nos manuais de História, em que me chocavam sempre os relatos da época, sobre 14 e 16 horas de trabalho em subsolo de carvão, com condições inimagináveis. Nas novas “explorações mineiras”, vulgo entidades empregadoras, os mineiros, vulgo colaboradores flexíveis esgrimem entre si argumentos sobre quem trabalha mais horas e menos tempo livre tem, assim como os velhos, em bancos de jardim e autocarros, disputam o lugar no pódio das maleitas e o lugar cimeiro na maratona das doenças.

Foto: Moi meme a bulir fora d'horas.

15 comentários:

nando disse...

Não era melhor gostar de trabalhar muito?

Clepsydra disse...

Nando,

Para mim, a situação ideal é trabalhar bem. Infelizmente, muito e bem tendem a confundir-se nos compêndios "vanguaradistas" de RH...

nando disse...

lol. Pensava que isso era privilégio dos funcionários públicos, amestrados aos números que o Ministro quer ir debitar no Jornal da Noite...

Mas quem gosta pouco do que faz, normalmente não gosta de trabalhar muito (bem diferente de não gostar muito de trabalhar ;)... E era essa a minha questão/sugestão, mas parece que foi ao lado. Quem sabe o ideal era mesmo não trabalhar?

Ervi Mendel disse...

De trabalhar muito sei pouco e de ser "bem visto" não sei nada pelo que vamos ao que interessa: a foto!

1) a foto não te isenta de responderes ao desafio do "herói da BD"

2) parece-me ver azulejos do teu lado direito. Isto quer dizer que te puseram a trabalhar no WC?

3) Porque é que é tudo verde (fios, cadeira) e branco (portátil, camisola) ? Não era suposto ser azul e branco?

4) Que mãos tão lindas :)
(sim, digo isto a todas, mas só quando é verdade)

Nuno Guronsan disse...

Labuto, ou faço por isso, para me inscrever nessa famigerada categoria do "fracassado-pouco-ambicioso-nunca-há-de-ser-ninguém". Não tenho pretensões de fazer algo que seja parecido com uma carreira. Gosto do que faço mas também gosto de tudo aquilo que não se relaciona com trabalho. De modo que, com algumas excepções, que o mundo não é fácil, lá tento não fazer mais que as 8 horas. Até porque normalmente chega e sobra para todo o meu trabalho. Acredito que haja muitas pessoas que não o conseguem por genuína sobrecarga do mesmo (e tenho amigos que sofrem desse mal), mas também conheço pessoas que não sabem minimamente organizar-se e também se gabam disso. Como é possível???

Venha o sol que se encontra fora do escritório.

Beijos.

Osga disse...

Por acaso reparei nas mãos, por acaso reparei nos azulejos, a foto esta a rasgar o minimalista mas com tanto verde será que tens os olhos da mesma cor? ;)

Clepsydra disse...

Nando,

Onde é que se apanha esse comboio rumo ao ideal do "não-trabalho"? :)

Clepsydra disse...

Ervi,

(devo notar que anadamos muito sistemáticos, a escrever comentários por itens, é influência do Prof. Marcelo?!?)

1)Jamais prescindiria da minha única oportunidade de ser herói da BD e usar roupa justa integralmente feita de licra ;)
2)Pior! Na minha cozinha... é trabalho pós-expediente realizado no (des)conforto do lar.
3)É uma armadilha, uma cabala cromática, só pode!!! Verde e branco, arghh!
4)Humpf! Flattery will get you nowhere! Mas também gosto das minhas mãozinhas...

Clepsydra disse...

Nuno,

Sobretudo, que não se esqueça o sol que existe fora do escritório e a beleza de todas as coisas que subsistem no exterior do mesmo.

Beijo

Clepsydra disse...

Osga,

Com tanto verde, impõe-se, definitivamente, uma cor banalmente contrastante ;)

Ervi Mendel disse...

Olhos castanhos, portanto. Para bom entendedor nove (9!!!) palavras tuas bastam :)

Klatuu o embuçado disse...

«Não fazer nada é a minha perdição.»

Álvaro de Campos

Anónimo disse...

acredite que estar a fazer um doutoramento parece-se com ser empregado duma mina... na questão do vislumbre da luz solar, claro...

ulrich disse...

eu trabalho sete

Clepsydra disse...

Ervi,
Casta... Muito bem, caro bom entendedor :)

Klatuu,
O Álvaro lá saberia das suas perdições. É na saturação do líquido do tempo pelo sal das inúmeras actividades que nos perdemos da/na nossa perdição.

Ana,
Acredito, sim. Mesmo quando se trata de uma paixão (como é o seu caso), às vezes, ficar cego também cansa :)

Ulrich,
Para o caso, sete entra na categoria das oito.. tsch.