quinta-feira, 12 de junho de 2008

Ora, ponha aqui o seu pezinho

O domingo de imensa, gigantesca e incomensurável neura passou-se entre o horário tardio de despertar, o almoço tardio e longo em casa dos pais, a tarde sem a habitual companhia para café e actualização dos jornais tardiamente revistos e a tardia e inútil tentativa de restaurar algum equilíbrio na roupa por passar a ferro que se acumulava numa pilha que diariamente ameaçava tombar. A noite teria de ser compensada. Eu pensava que queria ir ver o Sabor do Amor do Wong Kar-Wai. Como em tudo ao longo desse dia, cheguei tarde para a sessão desse filme o que me empurrou para uma película que já tinha decidido não ir ver: O Sexo e a Cidade. Belíssimo engano, percebi depois que era o filme perfeito para esse dia. Despretensioso, irreal, fantasioso e com um remate de Cinderela dos tempos modernos a roçar descaradamente o happy end.


Eu sou sériedependente, admito. Devo ter visto praticamente todos os episódios da série, embora, muito provavelmente tenha trocado a ordem às temporadas e aos episódios. Recordo como especialmente boas a primeira e a última temporadas, porque lá, pelo meio, já não sei muito bem o que se passou. Acho que a ficção não tem obrigação nenhuma de respeitar a realidade. Contudo, sempre me intrigou e aborreceu ligeiramente (nessa série, como em outras) a ausência do factor trabalho e a opulenta presença do seu suposto resultado: dinheiro a rodos para jantares, festas, vestidos, sapatos e carteiras. Ainda assim, cativaram-me aquelas caricaturas toscas de mulheres ultra românticas, hiper racionais, puramente libertinas ou vincadamente analíticas. Dificilmente alguém se define unicamente através de uma dessas ou de outras características, porém em função das circunstâncias é possível que uma dessas facetas se sobreponha às demais que em doses diferentes nos constituem. Nessa história e nessas mulheres, há de tudo, como na farmácia e, em conformidade com a maleita, imagino-me no vestiário dos feitios a escolher a farpela que melhor se adequa às situações: de manhã, Charlotte, à tarde, Miranda, ao jantar Carrie e, à noite, sem dúvida, Samantha.


Sapato: Something Blue Satin Pump, de Manolo Blahnik (Claro!)

3 comentários:

Osga disse...

Não podia faltar uns Manolo.. ;)

Ervi Mendel disse...

Tanta coisa para confessares que foste ver um filme desses e gostaste! hehehe

Clepsydra disse...

Osga,
Os manolos são indispensáveis e, no filme, têm mesmo um papel central (como na vida, aliás) :)

Ervi,
Espera até veres o longo post, alicerçado em densa fundamentação ontológica e metafísica, onde eu confesso assistir ao Euro 2008. :)