quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O mundo, hoje, está mais bonito

(Mensagem recebida às 10:26, enviada por F.):

Após 20 h de trabalho de parto, 11 das quais sem anestesia, a S. fez nascer o T., rapaz de 3890g e 53 cm. O mundo, hoje, é um lugar ainda mais belo.

O F. e a S. protagonizam uma das mais bonitas reais histórias de amor que conheço. Não é uma história de paixão assolapada, com picos de dor e de angústia, seguidos de reconciliação idílica e frenética. É a história de um amor tranquilo, feito de cumplicidade, de companheirismo, de serenidade e sentido de humor. É a história de um amor que cresceu, simplesmente crescendo, fortificando-se a partir dos obstáculos que foi capaz de integrar em si. É a história de um amor que hoje e, seguramente, amanhã deixa o mundo de todos os que os conhecem mais belo, mais sereno e mais forte.

O F. é uma pessoa muito ponderada e reservada. Aproximarmo-nos, como amigos, foi um processo lento e gradativo de pequenos, mas sólidos e irreversíveis passos. Reza a lenda, porque ele não é de contar estas histórias na primeira pessoa, que o F. partiu para Itália há 7 anos, na companhia da namorada de outros tantos anos. Lá chegados, a moça concluiu que eram muito-novos-e- tal, que deviam conhecer-outras-pessoas-e-mai-não-sei-quê. Reza a lenda que o F. ficou destroçado, à sua maneira, uma maneira contida, uma maneira reflexiva de quem se (des)constrói com a dor que o assola. Fiel aos seus objectivos (mais fiel do que qualquer outra pessoa que conheço) prosseguiu com a senda académica que o tinha levado a Roma, frequentando as aulas de mestrado e cursinhos quejandos. Nessas lides, conheceu a S., uma finlandesa linda (que, apesar de não se acreditar, fala um português quase perfeito, apenas traído pelo enrubescimento das suas faces brancas). Ambos estavam em Roma de passagem, e o fim dessa estadia poderia ditar o fim de um romance que mal tinha começado. Aliás, penso que o mais provável seria justamente esse destino, o fim. Quem os conhece sabe que são daquelas pessoas cujas certezas não se diluem em distâncias geográficas, culturais e emocionais. Alimentaram e alimentaram-se de um amor à moda antiga, feito de cartas, feito de ausências e de inabaláveis saudades, feito de planos e da alegria antecipada de os fazer. (Recordo umas férias em Odeceixe, em que todos os dias o F. se retirava para escrever um postal com destino finlandês. Recordo o olhar partilhado entre amigos, quando tal acontecia, um olhar que dizia eu também quero amar assim um dia, um dia eu também quero amar todos os dias num postal de verão).
Os anos de cartas e de afastamento deram lugar a opções mais sérias. Tendo obtido a bolsa de doutoramento, o F. partiu para se instalar com a S. num apartamento de 50 m2 em Helsínquia. Visitei-os uma vez e também aí, desejei aquela felicidade partilhada num apartamento exíguo, numa cidade hirta e estranha, com uma grande janela com vista para um jardim. Agora, eles estão cá. O F. está a dar aulas numa Universidade. A S. tem uma licença de maternidade (daquelas à Estado-Providência). Durante 2, 3 anos podem traçar alguns planos de estadia geográfica, a partir desse limite já não é possível. Mas, isso não assusta o meu amigo, porque ele sabe, naquele seu modo que lhe é tão característico, de emoção traçada a régua e esquadro, que estará e irá com o seu amor, um amor tranquilo, discreto, pouco vistoso, mas que é de uma força avassaladoramente poderosa.

Bem vindo, T. não poderias estar em melhores mãos, não imagino melhor abraço, melhor beijo, melhor colo para cresceres.
Foto: "Flor nas Flores", de João Viegas.

3 comentários:

PrimaNocte disse...

Bonito, bonito, bonito.
Mas que grande post.

Kazahn disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Clepsydra disse...

Humpf! Não sabia que existia spam e virus nos blogs. Shuif, foi o meu 1º bug...