Encontramo-nos casualmente. Aliás, vivendo nesta cidade e tendo em conta o confinado circuito em que nos movemos, o que é estranho é não esbarrarmos um no outro mais vezes. Cumprimentei-te, mas não fazia tenção de alimentar conversa. Tinha-te enviado uma mensagem em Novembro que apenas pedia uma informação profissional. Não respondeste e pensei, "ah, ok, não sabia que nos encontrávamos neste patamar de desentendimento, mas tudo bem!". Contigo, aprendi a não estranhar o desinteresse, a clausura e o autismo social em que é possível alguém a estruturar a sua vida. Gostei que tivesses dissipado o mal entendido. Gostei do esforço explicativo a que te propuseste, afirmando não ter recebido essa mensagem, porque estavas fora. Gostei que tivesses afirmado que, não obstante tudo o que se passou, poderia contar contigo sempre que precisasse. Mais, confesso que gostei de te ouvir dizer que sentias saudades minhas e que achavas que isto (de termos deixado de falar) não fazia sentido. Simplesmente, devias ter ficado por aqui. Devias ter entendido que quando chutei para canto anotar o teu novo número de telefone, isso significava o meu limite. O limite traçado em torno de uma existência pacífica e cordial sempre que o acaso nos juntasse neste pequeno burgo. Só isso.
Vertendo este encontro e a minha experiência contigo para o meu presente, há algo de positivo. Verificar a minha plena e completa indiferença à tua inesperada presença, quando durante muito tempo apenas pressenti-la me faria disparar de ansiedade e arritmia. Perceber que é sempre quem nega ao outro o que este lhe pede que mais tarde se encontra ainda incompleto e ainda periclitante.
Por isso, sei que isso também irá acontecer contigo, C. Sei que chegará um dia em que deixarás de assaltar o meu pensamento nas mais diversas circunstâncias. Sei que chegará um dia em que a tua presença não influirá na minha. E, desconfio, que se insistires em recusar a hipótese de diálogo que te pedi, poderás ter dificuldade em fechar a porta que entreabrimos.

2 comentários:
...Gostei...
ou então quando abrir a porta não encontrará lá ninguém.
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