quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

SMS versão telefonema (a "chaga" continua)

Mas será que não percebeste nada?!

Desde o início, não falamos a mesma língua, não entendias o que eu dizia e, consequentemente, eu também não descodifiquei devidamente o que me transmitias.
Na situação em que nos encontrávamos, existiam dois caminhos possíveis:
1 - Tu não ligavas e, logo, eu também não (e vivíamos felizes para sempre!)
2 - Tu ligavas, eu atendia (contrariamente ao que tu disseste que esperavas, vê-se que não me conheces) e nascia o nosso solilóquio.
Aconteceu a segunda e, devo confessar que não me surpreende inteiramente. Tu és um gajo que gosta de dizer depois, quando conta as histórias, "ah, mas ficamos amigos. Aliás, ver se lhe ligo para tomarmos um cafezinho".
Mas, não entendeste, não vais entender e seguramente terás um choque, quando um Galileu qualquer irromper na tua vida e te demonstrar que o mundo não gira à tua volta!! Aliás, provavelmente já foste confrontado com essa revelação, mas certamente que a condenaste à fogueira. Não és capaz de, por instantes, sair da marcha autista da tua rotação e imaginares o que é estar na posição dos outros. Isso não é novo, foi sempre assim. Isso não aconteceu depois do acidente estruturalmente trágico que marcou a tua vida, simplesmente se agudizou depois disso. Isso não dá sinais de mudança e é aí que eu entro.
Reconstruíste os factos para encaixarem no teu narcísico paradigma, à luz dos quais, o que é realmente central é:
- eu não ter respondido à tua mensagem (como é que alguém tem o desplante de te ignorar?!);
- evitar cruzar-me contigo em contextos que nada mais permitem do que uma fortuita troca de olhares (como é que alguém pode conscientemente desperdiçar oportunidades raras de te contemplar?!).
Esta foi a informação que tu retiveste. Decidiste ignorar e não compreender (mesmo quando te explicava ao telefone) que:
- tu tinhas ficado de telefonar e não o tinhas feito;
- tinha de facto evitado situações de co-presença, que coincidem cronologicamente e derivam directamente de não teres cumprido com algo tão simples como telefonar, quando disseste que o farias;
- (nem sei se este merece ser tópico) não, não respondi à tua mensagem, porque não era uma mensagem que eu esperava, e querer falar contigo dependia directamente do empenho e da importância que demonstrasses que esse acto de comunicação teria para ti.
Resumindo: não percebeste nada do que se passou! Adepto fervoroso do negacionismo histórico, dediste escolher os factos que melhor te serviam, recusando, inclusivamente, discuti-los. Foi assim no telefonema, será assim na eventual conversa, negociada já em jeito de exasperada síntese, da seguinte forma:
C. - ah e tal eu não sei se queres conversar comigo. Eu quero falar contigo, mas tu é que sabes... (isto repetido de formas diferentes e intermitentes ao longo dos 15 minutos do telefonema)
Je - (já a espumar pela boca, mas fazendo jus aos ensinamentos das aulas de ioga...Ommmmm) Ok, então, deixa ver se eu percebi. Tu queres falar comigo e queres ouvir o que tenho para te dizer, certo?
C. - Sim.
Je - Eu também quero falar contigo, de outro modo, não te teria ligado há duas semanas a dizer 'preciso de falar contigo'.
C. - (que não aprende, mesmo, começa a rever mentalmente a sua agenda lotada) Ah, então amanhã, ehh, não amanhã, não, porque fiquei de ir com um amigo às compras. Mas, na sexta, ehh, na sexta tenho uma consulta e no fim de semana é compl...
Je - (nesta altura já não haveria Ghandi que aturasse isto, mas ainda assim, saquei de um lampejo de diplomacia). Olha, C., fazemos assim (acredite-se, ou não, eu ainda tenho dificuldades, consegui proferir esta frase com calma, de forma pausada e com uma dicção perfeita): Quando tu puderes, quando tu quiseres e te sentires com disponibilidade para conversarmos, telefonas-me e marcamos um dia, parece-te bem?
C. - Sim.
Je - Então fica, assim.
Sinceramente, não sei se vais ligar. Se ligares, é uma terra de ninguém que nos espera, um conjunto de ruínas ainda fumegantes que implodiram de desencanto, de desatenção e de desamor. Não será terreno habitável tão cedo...


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