Não sei explicar muito bem o que acontece no agora, no já. Não sei o que é, não sei o que vale. Desconheço quanto pesa. Ignoro se levita ou se deve ser enterrado.
Sei que é uma inesperada nesga de luz cintilante que, comandada por uma vontade sem freios, nem normas, rasga o uniforme cinzento e previsível com que se farda o quotidiano.
É tão… perfeito, é isso! É tão perfeito que não pode ser real, não pode ser palpável, não pode ser a bonança. Porque, se é, então, entretenho-me a antecipar a tempestade e começo a cerrar janelas, a verificar o ferrolho da porta, a contar os mantimentos.
Contenho-me.
Sei que é uma inesperada nesga de luz cintilante que, comandada por uma vontade sem freios, nem normas, rasga o uniforme cinzento e previsível com que se farda o quotidiano.
É tão… perfeito, é isso! É tão perfeito que não pode ser real, não pode ser palpável, não pode ser a bonança. Porque, se é, então, entretenho-me a antecipar a tempestade e começo a cerrar janelas, a verificar o ferrolho da porta, a contar os mantimentos.
Contenho-me.
As mãos procuraram papel e caneta de tinta preta e desenharam coisas tontas que receio não conseguir partilhar contigo:
J.,
J.,
Obrigada, é uma daquelas palavras gastas de tanto uso inútil, circunstancial e oco, porque desprovido de um genuíno sentido de agradecimento. Na realidade, agradecer também não era exactamente o meu propósito. Mas, as palavras têm estas limitações, de apenas esboçarem de uma forma muito imperfeita e grosseira o que pensamos e sentimos.
Feita esta ressalva, aquilo que eu quero dizer, na impossibilidade de inventar uma palavra mais fiel ao que pretendo exprimir, é: obrigada…
Pelas inesperadas, surpreendentes e maravilhosas horas, em que o prazer desaguou em todos os minutos como um oceano, inundando e diluindo o tempo, arrastando-me e fazendo-me transbordar de mim, em ti.
Envio um João (mas este é Gilberto) e, apesar de me fazer viajar, planando na sua voz doce, cheia e sublime, fica a anos luz, do deleite em que tu, mesmo sem palavras, me submerges de uma forma plena, completa… perfeita!
Perdi a conta aos bilhetes, às cartas, às surpresas que, por receio do ridículo, do medo de ser desmesurada, deixei de partilhar com quem de direito. Os destinatários foram-se todos. Mais leves, porque eu fiquei com os excessos, em caixas em que ainda tropeço. Não ficaram por se encontrarem mais ligeiros, não deixaram de partir pelo peso na bagagem e eu fiquei sempre com algo a mais, que não me pertence, a não ser que seja partilhado.
To send or not to send, talvez dependa disto: de deixar de me tentar encaixar naquilo que eu acho que o outro quer, deseja ou projecta. Eu sou assim, desmedida e ridiculamente romântica, sonhadora, arrebatada... Talvez, quem não goste ou não possua caixas para partilhar os excessos (com medos ou sem eles)... Talvez, não deva ficar...
Feita esta ressalva, aquilo que eu quero dizer, na impossibilidade de inventar uma palavra mais fiel ao que pretendo exprimir, é: obrigada…
Pelas inesperadas, surpreendentes e maravilhosas horas, em que o prazer desaguou em todos os minutos como um oceano, inundando e diluindo o tempo, arrastando-me e fazendo-me transbordar de mim, em ti.
Envio um João (mas este é Gilberto) e, apesar de me fazer viajar, planando na sua voz doce, cheia e sublime, fica a anos luz, do deleite em que tu, mesmo sem palavras, me submerges de uma forma plena, completa… perfeita!
Perdi a conta aos bilhetes, às cartas, às surpresas que, por receio do ridículo, do medo de ser desmesurada, deixei de partilhar com quem de direito. Os destinatários foram-se todos. Mais leves, porque eu fiquei com os excessos, em caixas em que ainda tropeço. Não ficaram por se encontrarem mais ligeiros, não deixaram de partir pelo peso na bagagem e eu fiquei sempre com algo a mais, que não me pertence, a não ser que seja partilhado.
To send or not to send, talvez dependa disto: de deixar de me tentar encaixar naquilo que eu acho que o outro quer, deseja ou projecta. Eu sou assim, desmedida e ridiculamente romântica, sonhadora, arrebatada... Talvez, quem não goste ou não possua caixas para partilhar os excessos (com medos ou sem eles)... Talvez, não deva ficar...
Foto: "Envelhece-se mais devagar ao anoitecer" de Mariah.
2 comentários:
És uma poetisa da prosa!
Excelente.
E sim, perigoso. :)
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