quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Retornar

E a Vida brinca mais uma vez ao "1, 2, 3, diga coincidência mais uma vez..."


Os meros sinais da tua tua presença já me fizeram tremer o corpo, já me secaram a boca, já me plantaram uma pedreira no estômago... Fui percebendo que o epicentro do tsunami físico que semevas em mim, aos poucos, se deslocava, afrouxando a nefasta devastação que me provocavas... Meses passaram sem a intempérie de te vislumbrar, até que na quinta-feira lá estavam os teus indicíos, lá estavas tu... Mas, em mim, não houve uma nuvem que se formasse, não se discerniu uma brisa, não se apagou o sol que agora brilha e me aquece. Sorri, depois, quando percebi de que é que se tratava... a memória do corpo dissipara-se, finalmente.


Quase jurava que tinhas avistado o bom tempo que em mim fazia ou que engenhosamente terias encontrado este espaço de confissões e, por isso, após meses de hirto silêncio frio, decidiste assolar-me com um contacto (por sms, como tu e os adolescentes tanto apreciam...). Mas, não, nada disso. É só a culpa, que tarda, mas não falha, é só o retorno de uma lembrança torta que transportas, é só a porta entreaberta que, por teimosia, não fechaste. Faz frio, não é? Que pena não te poder ajudar, mas essa corrente de ar já não me incomoda, já não estou do outro lado à tua espera...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Memória dissipada

E depois, um dia, agora, o corpo deixa de ranger quando intui a tua presença. Já não és ladrão, malfeitor e foragido. Foste amnistiado da condenção do afecto, da raiva, da ternura e do medo que te prendiam.
Deixaste de ser procurado e depois, um dia, agora já não se oferecem recompensas a um sol que entregue a tua sombra. Desconheces, ignoras e és alheio a este processo, porque é só minha a celebração da liberdade que te encerra nas grades opacas da indiferença.

A dor já não é, já não está, nem sequer vagamente. Agora, a dor é só textura da memória seca e encarcaquilhada dos estilhaços do antes, de um dia...
Foto: "A paisagem que escapuliu " de Luís Andrade.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Reseting

E os regressos ficam difíceis quando a motivação que originou a partida se esvai, se dissolve noutras possíveis alavancas, que ainda não se perscrutam, que ainda não se adivinham como tal.

Já não me recordo se aqui escrevi o porquê (e não me apetece reler tudo o que já está empilhado) ou se terá sido através de uma troca de e-mails, ou se num comentário em post alheio, ou se é o eco na minha cabeça à força de algumas vezes me ter obrigado a enunciar um edifício justificativo para o blogue... Já não me recordo... Apenas reconstruo, com o cimento do hoje, aquilo restou de ontem. Dilacerava-me vagamente numa situação em particular que alimentava as raízes da reflexividade. Apaziguava-me, de início, o mero acto da escrita. Agradava-me, já um pouco depois, a dinâmica própria que o espaço gerava, ao servir de plataforma que crescia como uma espiral de integração em outros espaços. Contudo, este segundo aspecto foi sempre um efeito e não uma causa. A Razão, a motivação original residiu sempre no abraço de conforto, no afago que a escrita produzia em mim. Há, portanto, uma raíz vincadamente onanística neste blogue. O problema é que estes ensejos de masturbação emocional não se subjugam a obrigações, nem a frequências temporais...

Mas, hoje, apeteceu-me vir... outra vez!



Foto: "A turbulência do silêncio", de b.silva.